domingo, 2 de março de 2008

Amor

por Srila Bhaktivinoda Thakura

Amor* é uma palavra muito doce. Quando ela é falada, um sentimento doce surge nos corações tanto de quem fala como daqueles que escutam. Embora poucos sejam capazes de compreender seu verdadeiro significado, todos ainda assim gostam de ouvir a palavra. Todos os seres são controlados pelo amor. Muitos até abandonam suas vidas por causa dele. Todos os seres são controlados pelo amor e amar é o único propósito da vida humana. Muitos pensam que a satisfação de seus desejos egoístas é o propósito principal de suas existências, mas isto está errado. Por amor o homem pode sacrificar todos seus interesses próprios. O egoísmo faz com que o homem lute somente pela sua própria felicidade e autonomia, mas o amor faz com que ele sacrifique todos seus interesses pelo bem da coisa ou da pessoa que lhe é querida. Quando quer que haja um confronto entre o egoísmo e o amor, o amor será vitorioso. Em especial, mesmo quando o egoísmo é muito intenso, ainda assim, ele permanece subordinado ao amor. O que é o egoísmo? O egoísmo é esforçar-se por aquilo que é querido para si mesmo. Assim, não deixa de ser razoável afirmar que a vida humana é direcionada pelo amor.

O amor se torna o propósito principal da vida humana, mesmo quando a pessoa luta para satisfazer seus desejos egoístas. Os materialistas e aqueles que buscam a liberação se esforçam na procura de desfrute e liberação, devido ao seu amor por isto. O amor é proeminente no caminho do transcendentalismo também. Aqueles que buscam o prazer espiritual, considerando o prazer mundano como temporário, são de dois tipos: aqueles tomados por uma necessidade de desfrutar e aqueles guiados por um desejo de serem liberados. Os primeiros estão,
atualmente, ou preocupados com a busca por riqueza, reino, esposa e filhos, ou embaraçados pelo desejo de ter a posição de Indra (ou de qualquer outro semideus em Svarga) ou ainda desejando a felicidade nos planetas celestiais como Brahmaloka. Porque eles têm amor por estas coisas, eles constantemente se esforçam para obtê-las.

Aqueles que desejam a liberação não têm amor pelos desfrutes mundanos, mas, pelo contrário, acalentam o desejo de se liberarem das coisas mundanas. Então, por terem amor pela liberação, eles se esforçam por isto. O amor é o que os materialistas buscam com seu desfrute bem como o que os que desejam a liberação procuram nesta. Assim, alcançar o amor é o objetivo final para esses dois tipos de pessoas. O amor é o único objetivo de todo o esforço espiritual.

(...) O significado das afirmações altamente autorizadas dos Vedas é que não existe amor nos planos grosseiro e sutil. Qualquer semelhança de amor que seja encontrada aqui é experimentada somente em relação à alma. A alma pura é transcendental, e o amor que existe entre as almas é amor puro. Somente este amor é digno de ser buscado. O amor mundano, ou o amor que existe entre seres humanos, é não mais que uma distorção do amor da alma. O amor que existe entre as almas é o único amor verdadeiro.

‘Ame a Krsna’ – a instrução mais elevada

No Srimad-Bhagavatam (10.14.55) é dito:
krsnam enam avehi tvam|atmanam akhilatmanam
Sri Krsna, que possui sessenta e quatro atributos excelentes, é a alma de todas as almas. O amor que todas as almas têm por Krsna é livre de designações mundanas e é superlativo. Aqueles que escreveram sobre psicologia e a complexidade do amor, sem conhecer a verdadeira natureza do amor, simplesmente desperdiçaram seu tempo, a despeito de todo o seu raciocínio, como se misturassem ghi (manteiga clarificada) com cinzas. Por causa de orgulho, tais pessoas simplesmente se esforçaram pela fama. Ao invés de terem beneficiado o mundo, elas trouxeram um grande infortúnio. Irmãos! parem de ouvir as falas grandiloqüentes dessas pessoas e desenvolvam apego puro pela alma, fazendo, com isso, que a natureza de sua alma brilhe ao experimentar aquele amor que é livre de todas as designações”.

* A palavra utilizada no original é priti, traduzida como “amor”.

[Trecho traduzido para o Português do texto Love de Srila Bhaktivinoda Thakura publicado na revista Rays of the harmonist 7.1, winter – 2003, p. 8-15]

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