domingo, 2 de março de 2008

Mensagem para os devotos

por Srila Bhaktivedanta Narayana Gosvami Maharaja



“Eu quero que todos os devotos brasileiros sejam felizes. Tentem seguir de forma estrita a mensagem de Srila Rupa Gosvami e Raghunatha dasa Gosvami, conforme eu tenho ensinado em minhas aulas − o processo para praticar bhajana como as gopis serviram a Krsna, com amor e afeição.

Nosso guru-varga afirma:
aradhyo bhagavan vrajesa-tanayas tad-dharma vrndavanam ramya kacid upasana vraja-vadhu-vargena ya kalpita srimad-bhagavatam pramanam amalam prema pum-artho mahan sri-caitanya-mahaprabhor matam idam tatradaro nah parah
Caitanya-manjusa, Srila Visvanatha Cakravarti Thakura

O que Sri Caitanya Mahaprabhu falou nós vamos seguir, esta é a meta, o objetivo e a essência do Srimad-bhagavatam. Krsna é o Senhor Supremo, embora Ele esteja roubando manteiga nas casas das gopis. Embora Ele seja um menininho pastoreando as vacas, ainda assim, Ele é o Senhor dos Senhores. Ele é aradhyo [adorável], e Vrndavana-dhama também é digna de adoração como Krsna o é, não há diferença. E o processo pelo qual as gopis serviram a Krsna, com os sentimentos mais elevados, nós devemos seguir da mesma maneira. O Srimad-bhagavatam é pramana, a verdade final, então devemos seguí-lo e, assim, seremos felizes para sempre.

Não sejam fracos e não abandonem esta idéia. Sempre cantem o [santo] nome e preguem a minha missão. Esta é a minha essência de todos os ensinamentos”.

[Tradução de uma declaração de Srila Gurudeva gravada em Sri Govardhana-dhama, India, durante o Sri Vraja-mandala Parikrama no ano de 2003]

Orar humildemente por ajuda

por Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada

Bahubhirmilitva yat kirtanam tadaiva sankirtanam – sankirtana significa o canto congregacional.”



As glorificações e preces estão incluídas no sankirtana. De uma perspectiva externa, aquele que oferece stuti (orações védicas) tem uma posição menos elevada do que o objeto de suas preces. Uma terceira pessoa, entretanto, pode compreender melhor as glórias de uma pessoa por ouvir suas preces. Sri Gaurasundara explicou que para chamar por Bhagavan genuinamente, a pessoa deve ser mais humilde do que uma folha de grama (trnad api sunicena). Não podemos clamar e chorar por alguém até que tenhamos aceitado nossa própria insignificância em relação a esta pessoa. Nós imploramos por ajuda quando somos forçados a tomar consciência de nosso desamparo. Sempre que nos encontramos incapazes de completar uma tarefa por nós mesmos, não nos resta opção a não ser buscar ajuda de alguém. Sozinho não posso desempenhar uma tarefa que requer cinco pessoas para ser realizada.

Sri Gaurasundara nos instrui a clamar por Bhagavan de forma genuína, o que significa que Ele nos persuade a solicitarmos a ajuda de Sri Bhagavan. Isto nós ouvimos de Srila Gurudeva. Contudo, se eu chamo Bhagavan com a intenção de envolvê-lO em algum serviço para mim, ou se peço a Ele com o propósito de fazer alguma tarefa, falta em meu choro a humildade verdadeira de trnad api sunicena. A verdadeira humildade nunca é encontrada numa exibição externa de humildade, a qual é, de fato, mera duplicidade. Clamar por Bhagavan com o sentimento de ser o mestre ou o senhor dEle, esperando que Ele obedeça como um servo não é eficiente. Ele não ouve tal chamado porque Ele é supremamente independente e totalmente consciente. Assim, Ele não é controlado por ninguém. Até que o egoísmo da pessoa estabeleça raízes em uma humildade sincera e sem duplicidade, suas preces não alcançarão Bhagavan, que é completamente independente.

Uma pessoa que é mais humilde que uma folha de grama pode clamar por Bhagavan, mas, ao menos que seja dotada com as qualidades da paciência e tolerância, seu chamado ainda assim não resultará em frutos. Se demonstrarmos impaciência por perseguir nossos próprios interesses, nosso comportamento está em oposição direta ao humor de trnad api sunicena. Se tivermos plena confiança de que Bhagavan é o Ser Completo e de que nosso chamado por Ele nunca resultará em escassez, não experimentaremos nenhuma falta de paciência. Mas se nos tornamos cobiçosos, intolerantes e irrequietos, e se permanecermos inflexíveis de que completaremos nossa tarefa com a força da nossa própria habilidade e competência, não seremos capazes de clamar por Bhagavan no verdadeiro sentido.

Se formos vaidosos, não poderemos clamar por Ele apropriadamente. Além disso, se tentarmos aniquilar nossos verdadeiros interesses próprios, então não seremos capazes de clamar por Bhagavan. Frequentemente pensar que está controlando Bhagavan através de suas preces e então se ocupar em outras atividades nas quais não necessita pedir a ajuda dELe – este tipo de mentalidade também indica a ausência de tolerância.

Deste modo, precisamos de um guardião para nos salvar de tais tendências até que nos tornemos qualificados para orar com sinceridade no humor de trnad api sunicena. Seu abrigo e ajuda são necessárias para nos proteger das inclinações desfavoráveis. Srila Narottama dasa Thakura diz: “asraya laiya bhaje, tanre krsna nahi tyaje, ara sabe mare akarana – aquele que realiza bhajana abrigando-se em personalidades que são como a morada do amor por Krsna, tal pessoa não é negligenciada por Krsna; todos os demais vivem em vão.”

[Trecho do artigo Guru-tattva e seva da revista The Harmonist, nº 15, Kartika, 2005]

Amor

por Srila Bhaktivinoda Thakura

Amor* é uma palavra muito doce. Quando ela é falada, um sentimento doce surge nos corações tanto de quem fala como daqueles que escutam. Embora poucos sejam capazes de compreender seu verdadeiro significado, todos ainda assim gostam de ouvir a palavra. Todos os seres são controlados pelo amor. Muitos até abandonam suas vidas por causa dele. Todos os seres são controlados pelo amor e amar é o único propósito da vida humana. Muitos pensam que a satisfação de seus desejos egoístas é o propósito principal de suas existências, mas isto está errado. Por amor o homem pode sacrificar todos seus interesses próprios. O egoísmo faz com que o homem lute somente pela sua própria felicidade e autonomia, mas o amor faz com que ele sacrifique todos seus interesses pelo bem da coisa ou da pessoa que lhe é querida. Quando quer que haja um confronto entre o egoísmo e o amor, o amor será vitorioso. Em especial, mesmo quando o egoísmo é muito intenso, ainda assim, ele permanece subordinado ao amor. O que é o egoísmo? O egoísmo é esforçar-se por aquilo que é querido para si mesmo. Assim, não deixa de ser razoável afirmar que a vida humana é direcionada pelo amor.

O amor se torna o propósito principal da vida humana, mesmo quando a pessoa luta para satisfazer seus desejos egoístas. Os materialistas e aqueles que buscam a liberação se esforçam na procura de desfrute e liberação, devido ao seu amor por isto. O amor é proeminente no caminho do transcendentalismo também. Aqueles que buscam o prazer espiritual, considerando o prazer mundano como temporário, são de dois tipos: aqueles tomados por uma necessidade de desfrutar e aqueles guiados por um desejo de serem liberados. Os primeiros estão,
atualmente, ou preocupados com a busca por riqueza, reino, esposa e filhos, ou embaraçados pelo desejo de ter a posição de Indra (ou de qualquer outro semideus em Svarga) ou ainda desejando a felicidade nos planetas celestiais como Brahmaloka. Porque eles têm amor por estas coisas, eles constantemente se esforçam para obtê-las.

Aqueles que desejam a liberação não têm amor pelos desfrutes mundanos, mas, pelo contrário, acalentam o desejo de se liberarem das coisas mundanas. Então, por terem amor pela liberação, eles se esforçam por isto. O amor é o que os materialistas buscam com seu desfrute bem como o que os que desejam a liberação procuram nesta. Assim, alcançar o amor é o objetivo final para esses dois tipos de pessoas. O amor é o único objetivo de todo o esforço espiritual.

(...) O significado das afirmações altamente autorizadas dos Vedas é que não existe amor nos planos grosseiro e sutil. Qualquer semelhança de amor que seja encontrada aqui é experimentada somente em relação à alma. A alma pura é transcendental, e o amor que existe entre as almas é amor puro. Somente este amor é digno de ser buscado. O amor mundano, ou o amor que existe entre seres humanos, é não mais que uma distorção do amor da alma. O amor que existe entre as almas é o único amor verdadeiro.

‘Ame a Krsna’ – a instrução mais elevada

No Srimad-Bhagavatam (10.14.55) é dito:
krsnam enam avehi tvam|atmanam akhilatmanam
Sri Krsna, que possui sessenta e quatro atributos excelentes, é a alma de todas as almas. O amor que todas as almas têm por Krsna é livre de designações mundanas e é superlativo. Aqueles que escreveram sobre psicologia e a complexidade do amor, sem conhecer a verdadeira natureza do amor, simplesmente desperdiçaram seu tempo, a despeito de todo o seu raciocínio, como se misturassem ghi (manteiga clarificada) com cinzas. Por causa de orgulho, tais pessoas simplesmente se esforçaram pela fama. Ao invés de terem beneficiado o mundo, elas trouxeram um grande infortúnio. Irmãos! parem de ouvir as falas grandiloqüentes dessas pessoas e desenvolvam apego puro pela alma, fazendo, com isso, que a natureza de sua alma brilhe ao experimentar aquele amor que é livre de todas as designações”.

* A palavra utilizada no original é priti, traduzida como “amor”.

[Trecho traduzido para o Português do texto Love de Srila Bhaktivinoda Thakura publicado na revista Rays of the harmonist 7.1, winter – 2003, p. 8-15]

O processo de inquirir

por Sri Srimad Gour Govinda Maharaja

Como pode uma alma condicionada capturada por maya compreender sua verdadeira identidade? Como ela pode obter esta consciência original, o começo da pureza, a auto-identificação como um servo do Senhor? Ela não pode compreender isto a não ser que Krsna a ensine. Porque Krsna é nosso único amigo e bem-querente, Ele fala o sastra somente para nos ensinar. Mas baseado em nosso próprio mérito, inteligência ou conhecimento mundano, não podemos compreender o sastra. É uma questão de tattva-vicara. Existem dois tipos de considerações, dois tipos de compreensão do sastra: apara-vicara e tattva-vicara, consideração aparente e consideração absoluta. Nossa filosofia vaisnava está baseada somente na consideração absoluta, tattva-vicara. Apara-vicara é condenado. Assim, um guru, um tattva-acarya é necessário.

tad viddhi pranipatena pariprasnena sevaya upadeksyanti te jñanam jñaninas tattva-darsinah

No Bhagavad-gita é dito que devemos aceitar um tattva-acarya, um tattva-darsinah, aquela pessoa que viu a verdade e conhece a verdade. Tal tattva-acarya pode nos dá tattva-jñana. De outra forma não há como obtermos este conhecimento. Embora o sastra esteja lá, somente por lê-lo não é possível entendê-lo. Krsna ensina através do sastra, do guru e do sadhu. A pessoa deve ser submissa e se aproximar de um vaisnava:

tad-vijñanartham sa gurum evabhigacchet samit-panih srotiyam brahma-nistham

Para aprender a ciência transcendental, a pessoa deve se aproximar de um mestre espiritual fidedigno, numa linha de sucessão discipular, e que esteja fixo na verdade absoluta.
Se você for muito sério e estiver ansioso por conhecer este tattva-jñana, você deve se aproximar de uma pessoa apropriada. Tal pessoa é um tattva-acarya. Ele conhece tattva. Ele recebeu este tattva-jñana de seu acarya escutando com submissão. Ele vem numa linha de sucessão guru-discípulo autorizada. Você deve se aproximar de tal pessoa. Então, pranipatena pariprasnena sevaya, renda-se completamente aos pés de lótus dele. Sirva-o, satisfaça-o e humildemente lhe faça perguntas sobre tattva. Então, pela misericórdia deste guru, acarya, ele irá colocar todo o conhecimento dentro de você. Este é o começo da pureza da consciência na busca do desejo do Senhor.

Quando você está muito ávido – “Como posso conhecer este tattva-jñana?” – então você deve se associar com um sadhu – adau sraddha tatah sadhu-sangah. Você deve ouvir com submissão o que o sadhu tem a dizer. Colocando fé firme nas palavras do sadhu, você deve se render. A não ser que você se renda, você não pode colocar fé completa nas palavras do sadhu. Não! Mesmo que você vá até ele, se sente e ouça, ainda assim você não pode conseguir a sua misericórdia. Você não tem fé nas palavras dele porque você não se rendeu.

Por ouvir de um sadhu apropriado você pode entender qual a sua verdadeira identificação: “Oh, ami krsna-dasa, sou um servo de Krsna”. Aqui é dito que a auto-identificação como um servo do Senhor é o começo da pureza da consciência.

[Trecho traduzido do livro Pariprasna – The process of Inquiry de Sri Srimad Gour Govinda Swami Maharaja.]